Avó!

Avó:

Bem sabes que é mais fácil escrever do que dizer. Bem sabes, pois transpões nas tuas quadras aquilo que sentes. Bem sei que não transpareces tudo, pois sofres de uma solidão que só tu sabes e não mereces avó. Não mereces! Passas os dias a ver televisão quando merecias estar rodeada por quem te é mais querido, passas as horas a sofrer por todos os problemas da família, passas os minutos a aguardar que o telefone toque ou que alguém te bata à porta. E eu passo os dias a pensar que me sinto impotente perante essa tua solidão. Passo o tempo a querer que dures para sempre, que quero abraçar-te sempre que for à terra, que quero fazer aquelas coceguinhas no pescoço que demonstram toda a nossa cumplicidade num só gesto. E quero ter-te para sempre avó! Perdi uma outra super avó demasiado cedo, e tu perdeste o teu companheiro cedo demais, perdeu a minha mãe um pai e eu o melhor avô que poderia alguma vez existir. Gostava de ter-te ao menos a ti, que és minha segunda mãe, ao meu lado, sempre! Pores ao colo os teus bisnetos, como me puseste a mim, dares de comer aos teus bisnetos como de deste a mim, ires buscá-los ao infantário, como me ias buscar a mim…ajudar a criá-los como me criaste a mim. O teu amor, avó, é único, é especial, é intenso. Até a tua teimosia me encanta por ver de onde veio a minha… Fizeste oitenta anos avó! És uma valente! Gostava que continuasses a ter a energia de outros tempos, em que não paravas quieta um segundo, viajavas por esse país fora, davas grandes caminhadas, corrias a cidade de lés a lés. Tenho saudades de te encontrar andando pela cidade avó, cheia de vivacidade, que uma vida de trabalho não apagou. Fazes-me falta avó! E eu longe de ti…sem poder dar-te aquele abraço apertado, que bem mereces. Sem poder ouvir as tuas histórias, sem te dar companhia… Estás só em casa avó, mas acredita que isso é apenas físico, pois eu penso todos os dias em ti e todos os dias desejo que fiques comigo sempre.

Amo-te avó!

Beijinhos da tua neta.